13 de julho de 2020

O demónio na cidade branca, de Erik Larson

Incrível este livro, de um autor que nunca tinha lido. Erik Larson tem o dom de transformar romances que dão vontade de ler com base numa quantidade de factos verídicos sempre bem suportados.

Aqui a verdadeira protagonista é a cidade de Chicago de finais do século XIX, quando conseguiu, sendo uma «cidade negra», cheia de sujidade, barulho e criminalidade, fazer nascer dentro de si uma «cidade branca», cheia de luz, planeamento e novidade: a Feira Mundial de 1893.

Larson guia-nos por todo o processo quase impossível de criação da feira, erguida apenas em dois anos sobre terrenos pantanosos quase impossíveis de domar. O espírito visionário do arquiteto Daniel Burnham foi sempre posto à prova, com problemas financeiros, arquitetónicos e até sindicais. Mas a cidade branca nasceu, foi um sucesso e nunca mais foi esquecida.

Em paralelo, conhecemos o assassino em série H. H. Holmes, que aproveitou o bulício da feira para pôr em prática toda a espécie de atrocidades.

Tudo verdade, tudo fundamentado. Porque tantas vezes a realidade ultrapassa a ficção.







8 de junho de 2020

O adeus à chucha

Tinha sido combinado para o dia dos 4 anos, mas foi 3 dias depois. 6 de junho de 2020 foi o dia em que as minhas filhas deixaram de usar chucha de noite. Custou-lhes, mas acabaram por ceder em dá-las aos «bebés que precisam e não têm». As noites têm sido um pouco mais agitadas, mas hão de acalmar, e a verdade é que é a primeira novidade que dão sempre que se encontram com alguém. Lá no fundo, estão felizes!

4 anos! Com alguns dias de atraso...

Ando mesmo desnaturada... as miúdas já fizeram 4 anos há quase uma semana e só agora venho aqui dar notícias. Apesar do desconfinamento (ou por causa dele e como está ser feito), fizémos uma festa mesmo muito pequenina, só comigo, tios e avós.

A Maria e a Luísa andaram meses a pedir uma festa de anos, mas com algumas conversas ao longo do tempo foram compreendendo que teria de ser algo diferente devido ao vírus que já parecem conhecer tão bem. Assim, estiveram tão felizes e orgulhosas como se fosse uma festa grande.

Deixaram de ser bebés, já são umas verdadeiras meninas só com laivos de bebés de vez em quando.

29 de abril de 2020

News

Sei que algumas pessoas têm dado pela falta de atividade aqui no blogue, por isso quero dar-vos uma satisfação. O único e verdadeiro motivo é a difícil adaptação à realidade que vivemos e a consequente falta de inspiração.

Estou metade da semana em teletrabalho intenso e a outra metade e fim de semana com as miúdas a full, que não me permitem um minuto de desatenção. Estão a ser tempos difíceis.


Ficar em casa com crianças pequenas não é poder ler à vontade. Ver filmes e séries sempre que nos apetecer. Comer coisas boas feitas com calma. Organizar livros, roupa e tudo o que estava há meses à espera. Dormir boas sestas. Conversar com os amigos. Inventar memes giros e partilhá-los. Esticarmo-nos no sofá ao sabor da vontade. 
 
Ficar em casa com duas crianças quase a fazer 4 anos é uma realidade totalmente diferente. É levantarmo-nos e já ter a casa num caos. É não conseguirmos tomar banho até às 11h porque antes disso há que arrumar tudo e tratar delas. É ouvir chamar-nos centenas de vezes por dia. É controlar a própria frustração delas e o comportamento que se alterou e até regrediu. É ter de pensar e confecionar todas as refeições a horas. É gerir birras e conflitos. É tentar inventar todas as brincadeiras possíveis. É não conseguir ter uma conversa ao telemóvel porque pedem atenção permanente. É não ter um minuto de silêncio ou de sossego. É não conseguir ler, ver filmes ou mesmo ouvir a nossa música. 
 
Ficar em casa com crianças pequenas é o maior desafio à sanidade mental que já vivi. 
 
Ao fim do dia, só sobra energia para ver uma ou outra série de episódios curtos (recomendo Killing Eve, na HBO, e After life, na Netflix) e ler meia dúzia de páginas para manter o hábito da leitura, que nunca esteve em níveis tão baixos (li O corpo, de Bill Bryson, Cair para dentro, de Valério Romão, Conspiração contra a América, de Philip Roth, e A educação dos gafanhotos, de David Machado).

Coisas positivas que entretanto aconteceram com as Oliveirinhas: já chegaram ao metro de altura, já sabem afiar os lápis sozinhas e já aprenderam a andar de bicicleta (com rodinhas). Duvido que lhes tivesse ensinado as duas últimas se não estivesse mais tempo com elas.

Tentarei vir aqui mais amiúde.

31 de março de 2020

Tal mãe, tal filha

Há uns 42 anos:
A minha Mãe: Rita, vai ao quarto buscar uma fralda para eu mudar a Inês.
(Eu vou, e regresso com uma data delas.)
A minha Mãe: Querida, porque é que trouxeste tantas?
Eu: Para ficar já despachada.

Hoje, por telefone:
A Luísa (ao meio-dia): Quero vestir já o pijama.
Eu: Amor, mas para quê? Ainda é muito cedo.
A Luísa: para ficar já despachada.

18 de março de 2020

Adiar a vida

Adiamos idas ao médico.
Adiamos idas ao parque.
Adiamos passeios a pé ou de bicicleta.
Adiamos comemorações de aniversário.
Adiamos o conforto na morte.
Adiamos dias comemorativos.
Adiamos jantar com os amigos ou com a família.
Adiamos exames importantes.
Adiamos a ida para o trabalho.
Adiamos um café na esplanada.
Adiamos visitas aos idosos ou aos doentes.
Adiamos viagens marcadas há meses.
Adiamos uma dor de dentes.
Adiamos idas ao cinema, ao teatro ou a um concerto.
Adiamos conduzir só porque nos apetece.
Adiamos a aprendizagem nas escolas.
Adiamos intervenções cirúrgicas.
Adiamos ir dançar.
Adiamos prazos de tarefas.
Adiamos casamentos.
Adiamos reuniões.
Adiamos ver os nossos pais e avós.

E, sobretudo, adiamos beijos, abraços e carícias. Aquilo que mais nos humaniza.

Que isto passe depressa.

15 de março de 2020

A minha Babá faria hoje 96 anos


A minha Babá, Avó materna que nunca quis que lhe chamássemos avó mas que foi a melhor avó que se pode ter, nasceu a 15 de março de 1924 e deixou-nos a 30 de setembro de 1997, com apenas 73 anos.

Era uma pessoa rígida e simultaneamente afetuosa, muito ligada a nós mas pronta a libertar-nos se fosse para o nosso bem, culta e poliglota porque era tradutora mas ao mesmo tempo a adorar ver telenovelas e concursos de televisão.

Foi ela que me iniciou no inglês e no francês, e foi com ela e com o meu Avô que visitei os primeiros museus da minha vida.

Não se considerava bonita, mas eu acho que era muito. E adorava receber festinhas dela na cabeça quando víamos televisão. Todos os dias penso nela, e não tenho qualquer dúvida de que é um dos meus anjos da guarda.